06 julho 2015
Cinema “made in” Vila do Conde
Há alguns anos que à volta do Festival Curtas de Vila do Conde se estabeleceu a possibilidade de se produzirem, também, alguns filmes. Da colheita deste ano são hoje exibidos, em estreia, “A Glória de Fazer Cinema em Portugal”, de Manuel Mozos, que aborda a relação do escritor vila-condense José Régio com a sétima arte, e "Vila do Conde Espraiada", que aproveita este famoso verso, também de Régio, para uma viagem por imagens de arquivo em forma de carta-cassete de amor.
Dia 6 de julho de 2015 - para ver às 22h30, no Teatro Municipal.
Bilhetes a 3,50€.
http://lazer.publico.pt/noticias/350585_sugestoes-do-dia-6-de-julho#
Edição revista e aumentada de "Amália quis Deus que fosse o meu nome"
A obra “Amália quis Deus que fosse o meu nome”, do sociólogo e produtor radiofónico Miguel Ferraz, editada em dezembro do ano passado, foi reeditada com “a inclusão de novos depoimentos”, nomeadamente do realizador de rádio António Sala.
A obra resulta de uma entrevista efetuada na casa de Amália, em Lisboa, em novembro de 1989, ano no qual celebrou o cinquentenário de carreira artística.
Nesta entrevista, Amália Rodrigues salientou as influências árabes e também marítimas, na origem do fado, e define esta expressão como “uma queixa”.
“Acho que temos uma influência árabe que os espanhóis também têm, além disso, o fado nasceu no mar”, afirma a fadista, na entrevista, citando em seguida o poema “Fado Português”, de José Régio, que gravou com música de Alain Oulman, para acrescentar que "o fado é uma queixa e nós temos muita razão de nos queixarmos... vida fora”.
Na entrevista, a fadista revela ainda que era “uma pessoa sempre em conflito interior, com aquilo que ouvia, com aquilo que via” e a “fazia muitas vezes chorar e ficar triste”.
Régio chega à Roménia
Georgiana Bărbulescu, conhecida lusista (e lusófila) romena, está neste momento a traduzir as Histórias de mulheres para o idioma dos latinos do Oriente. A obra de Régio começa assim a tocar um dos extremos do arco da latinidade, esse espaço linguístico-cultural imenso que começa no Oriente em Sulina, cidade situada no Delta romeno do Danúbio, e termina nas praias mexicanas do Pacífico, em Tijuana, no extremo ocidental dos países latinófonos, abraçando a metade do Hemisfério Norte - espaço no qual Portugal ocupa o centro.
O interesse de Georgiana Bărbulescu pela obra de Régio é já antigo: foi em 2002, no âmbito do Centro de Língua Portuguesa de Bucareste, que a poetisa e tradutora publicou uma brochura bilingue com cinco poemas de José Régio. Algumas dessas traduções foram depois publicadas numa revista literária do seu país, constituindo a primeira apresentação de Régio aos romenos.
Georgiana Bărbulescu tem desenvolvido na Roménia vários trabalhos poéticos e de ficção sobre poetas portugueses, especialmente em torno de dois nomes que mais interessaram Régio e que ele mais aprofundadamente estudou: Mário de Sá-Carneiro e Florbela Espanca. Ela publicou recentemente uma antologia florbeliana em romeno com o título SĂ IUBESC! (AMAR!), com 53 sonetos, o diário e algumas cartas escolhidas do livro Perdidamente pelo que, ao iniciar a versão romena das Histórias de mulheres, se sentiu em imediata sintonia com o universo ficcional regiano.
Também este ano é esperada a estreia amadora de uma peça de Régio na capital romena, Bucareste.
Abaixo pode ler-se a versão romena de 'Fado Português', de José Régio, na adaptação de Amália Rodrigues (outra paixão comum entre Régio e Georgiana), na qual se atesta a perfeita correspondência rítmica e rimática do trabalho desta infatigável promotora da lusofilia estrangeira:
05 julho 2015
Nova gravação do 'Fado Português' de José Régio cantado por Amália Rodrigues
Amália Rodrigues "inventou maneira de cantar intemporal"
Amália Rodrigues "inventou uma maneira de cantar que é intemporal", disse à Lusa o investigador Frederico Santiago, que coordenou a edição celebrativa do cinquentenário do álbum 'Fado português', que revela inéditos da fadista e os ensaios em estúdio.LusaCULTURA
POR LUSA
A edição, que é publicada na próxima sexta-feira, é um duplo CD, em que inclui todas as sessões de gravação feitas na mesma época, nomeadamente gravações inéditas de temas como 'Gaivota' e ‘Leonor’, e ensaios com o compositor Alain Oulman e os guitarristas.
"Ela inventou uma maneira de cantar que é intemporal, que é mais moderna que a de agora, e também mais antiga que a antiga", disse o investigador e musicólogo, segundo o qual, "Amália é um daqueles artistas ao nível do Miguel Ângelo".
"Ela inventou uma maneira de cantar que é intemporal, que é mais moderna que a de agora, e também mais antiga que a antiga", disse o investigador e musicólogo, segundo o qual, "Amália é um daqueles artistas ao nível do Miguel Ângelo".
Amália "é uma criadora e é de tal maneira grande e tão boa, musical e poeticamente, que se descobrem sempre novas coisas", realçou.
Frederico Santiago afirmou que, por ocasião dos 50 anos da edição do LP "Fado português", aproveitou "para editar todos os temas que foram gravados nas mesmas sessões, e que foram editados em outras edições dispersas".
Quanto à edição a sair na próxima sexta-feira, com dois CD, um contém 22 temas: os 12 do alinhamento original -- ‘Fado português’, ‘Cantiga de amigo’, ‘Si, si, si’, ‘Erros meus’, ‘Nome de rua’, ‘Na esquina de ver o mar’, ‘Gaivota’, ‘Verde, verde’, ‘Paresito faraón’, ‘Sombra’, ‘Fado corrido’ e ‘Ai Mouraria’ -, e dez outros, também gravados na mesma altura, mas não incluídos no LP editado em junho de 1965, entre os quais se contam ‘Espelho quebrado’, ‘Cansaço’, ‘As águias’, ‘Água e mel’, ‘Fandangueiro’ e ‘Lianor’.
O segundo CD é constituído por gravações inéditas, incluindo os ensaios, e uma versão nunca antes editada de ‘Fado português’ (José Régio/Alain Oulman), gravada em 1967, "mas que fazia sentido incluir".
Entre os ensaios agora trazidos à luz do dia, Frederico Santiago destacou o de ‘Havemos de ir a Viana’, cuja versão definitiva Amália gravaria anos mais tarde, e "que foi uma sorte estar completo, e no qual se vê como Amália era experimentalista".
"Ela experimentava muito e tinha um bom gosto tão alto e uma autocrítica muito grande", afirmou Santiago, que acrescentou: "Aquela coisa de ela dizer que 'foi Deus, foi Deus' é uma grande desculpa dela, para não assumir o quão grande era".
"As suas interpretações nunca deixavam de ser espontâneas, mas ela não se encostava a essa espontaneidade, não achava que por tudo lhe sair bem naturalmente, ia trabalhar para que lhe saísse melhor", realçou.
"Ela só por intuição fazia uma obra-prima, mas não se contentava com o muito bom, queria mesmo o excecional", afirmou.
O músico e investigador salientou "o bom gosto profundo" da fadista, "que a faz nunca estar datada". "Ela nunca canta à anos [19]40, ou à anos [19]50. Ela inventou uma maneira de cantar que é intemporal".
Referindo-se ao álbum ‘Fado português’, Frederico Santiago afirmou que "corresponde ao período áureo, do ponto de vista de impulso criativo, de Alain Oulman - cite-se temas como 'A gaivota' e 'Fado português', um tempo em que os dois [Oulman e Amália] trabalhavam muito juntos".
A fadista voltou a gravar temas de Oulman, nomeadamente no álbum ‘Com que voz’, publicado em 1970, e naquele que foi o seu último álbum, ainda em vida, ‘Obsessão’ (1990), nomeadamente os fados ‘Prece’ e ‘Entrega’, ambos com poemas de Pedro Homem de Mello.
O CD ‘Fado português’ inclui poemas, entre outros, de Mendinho, David Mourão-Ferreira, Carlos Conde, Luís de Macedo, Luís de Camões, Jorge Brum do Canto, Carlos Barbosa de Carvalho e Pedro Homem de Mello.
Esta edição inclui um texto de Fernando Dacosta, ‘Alturas de insenso’, no qual afirma que ‘Camões deu-nos a língua, Pessoa o pensamento, Amália a voz’, e reproduz ainda excertos da correspondência trocada entre a fadista e Oulman, e várias fotos, entre elas uma da fadista apreciando a capa do LP original, bem como textos de contextualização de Frederico Santiago.
Num deles, Santiago afirma que, “se alguma vez existiu 'lied' em português, o seu expoente máximo foi a obra de Alain para a voz de Amália”.
Texto de: http://www.noticiasaominuto.com/cultura/415894/amalia-rodrigues-inventou-maneira-de-cantar-intemporal
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